Andei pensando nessa
coisa incerta que é a vida e em como ela foge fácil de nossas mãos, deixando
planos, ideias, sonhos e feitos incompletos pelo espaço.
Imaginei como seria se
você soubesse o dia do seu fim com antecedência. Presumo que o sentimento não
se compararia à expectativa de um parto, de uma vida por vir, algo como a luz
surgindo.
Vida que vai e vem.
Todos parados em uma estação, aguardando a vida e a morte, embora
silenciosamente.
Uma das facetas mais
admiráveis do ser humano é conviver com a certeza da morte e não se desesperar.
Sempre penso nisso.
Viver com a certeza
cruel de só se viver uma vez. Uma única e inevitável vez.
O cavalo celado, que
com rapidez só aparece em tua porta uma vez. A vida é essa dádiva, que muitas
vezes se assemelha a um castigo.
A vida, que nos é dada
sem escolha. Cada um vai compondo acordes nas linhas dessa partitura.
Já dizia Milan Kundera,
"a vida humana acontece só uma vez, e não poderemos jamais verificar qual
seria a boa ou a má decisão, porque, em todas as situações, só podemos decidir
uma vez. Não nos são dadas uma primeira, segunda, terceira ou quarta chance
para que possamos comparar decisões diferentes".
Somos estreantes em um
show único que só acontece sem ensaio.
Kundera vai ainda mais
longe e afirma que "o homem, porque não tem senão uma vida, não tem
nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de
maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento.
Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em
cena sem nunca ter ensaiado".
"Uma vez não
conta, uma vez é nunca. Não poder viver senão uma vida é como não viver
nunca".
Recebemos como herança
da vida o mal de morrer. Temos como consolo o que pode ser feito aqui enquanto
houver ar para respirar, enquanto ainda restar forçar e batidas de coração.
Homens simples ou não,
caminhando pelo mundo. Sendo imortais mesmo após sua morte. Carregando a
herança serena e severa de só se viver uma vez.