terça-feira, 16 de agosto de 2011

Forever Young

Quando eu penso em estradas sinuosas eu lembro de uma canção que diz: "todas as estradas que conduzem até você eram sinuosas". Ainda estou tentando achar um significado para o "você" na minha analogia. Essa em especial é antiga e provoca flash's de um passado não muito distante da minha vida, tipo, ontem.

Outras músicas me trazem lembranças da infância, que foi sem dúvida, a que toda criança deveria ter. Meu pai tinha um ótimo gosto musical, e eu lembro de mim aos três anos cantando Forever Young do Alphaville, em cima da mesa da cozinha.

Apesar de 20 anos terem se passado, eu ainda me vejo daquele jeito. De certa forma, eu era bem mais interessante quando me importava apenas com o que meus pais achariam da minha apresentação de talento doméstica. Eu sabia que por mais errada que fosse a minha pronúncia da letra, eu seria aplaudida e mimada no final.

O público é outro. O século mudou, e eu me sinto completamente nua no meio de uma multidão anarquista. De repente as minhas ações já não agradam aos grandes mestres, e isso me frustra, principalmente pelo fato de que eu pareço gostar daquilo que me tornei.

A pressão dos kilogramas. Cílios postiços. Cabelos tingidos. Salto alto. Vestido colado. Blush. Batom. Curvex. Perfume francês. Langerrie. Amor. Ódio. Desapego. Frieza. Noites em claro. Whisky. Eu me pergunto onde está a mesa da cozinha de 20 anos atrás. Onde está aquela menina?

Um dia você cresce e vê seu coração batendo forte por meninos. Um dia você acorda e vê seu corpo em erupção. Um dia você dorme uma menina e acorda uma mulher. Um dia você descobre o que é a vaidade e o que poderá ser capaz de fazer para satisfaze-la.

Um dia, você percebe que o olhar carinhoso dos seus pais já não é o bastante. Você quer o olhar do mundo. Então passa a sair pelas madrugadas a procura de alguém que te faça sentir desejada.

E então percebe que todas as estradas do desejo são sinuosas, e que o mundo é viciado em usar, viciado em prazer, viciado em ter por um momento e abandonar por uma eternidade.

Então, quando toca aquela canção, tudo o que você quer é voltar a ser criança só para poder voltar a sentir o aroma do amor sincero. Aquele que é de verdade e eterno.

Quando o último acorde soa, a menina cresceu e se viu novamente acostumada ao desapego. Foi só um flash. A roleta viciada agora gira na jogatina na mesma direção.

E então ela segue para mais uma madrugada em claro. Ela é mulher.

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