terça-feira, 20 de abril de 2010

Água no relógio

Quando eu lavo a alma, eu perco a noção do tempo. Mas que pena, no tempo empoeirado ninguém toca.
Outra noite eu decidi lavar a alma, aceitando a proposta mais insana do meu corpo. Ele quer que eu me desligue do tempo, mas isso é impossível, já que as marcas dele me seguirão pelos resto do meus dias.
Meu relógio está cheio d´água, mas isso não enferruja o tempo representado pelos ponteiros frenéticos do segundos, que gritam incansavelmente que o tempo não para.
Estamos todos, com exceção das pedras, sujeitos a ver os dias escorrerem pelos dedos das mãos, sem que nada os impeça.
A vida é um grande sonho, uma bela visão de algo que em seu todo não é nada perfeito.
A vida é uma passagem, uma curta visita a um paraíso chamado mundo real.
Por um minuto estamos todos aqui, desprendidos no tempo, sem que nada nos apresse de viver, e em outros segundos estamos querendo beber os dias como se fossemos sedentos em meio a um deserto.
Diz a lenda, que é possível fazer o tempo parar. Eu sonho com esse dia. Não tenho pressa de ver o amanhã. O futuro é um rosto que não enxergamos de longe, e uma certeza que não veremos de perto.
Por hora, os olhos ansiosos pelo próximo nascer do sol, não se dão conta de que é no amanhã que vemos o nosso passado, mas nunca o futuro.
O sol da vida já nasceu para mim por 21 vezes, mais de duas décadas, e eu me lembro como se fosse ontem, do dia em que percebi o quão é maravilhoso estar viva.
No tabuleiro da vida, o que está em "xeque" é a felicidade. Nesse jogo ninguém sabota, apenas é sabotado.
Não me canso de sentir prazer ao ver meu relógio parado, é só uma doce ilusão de que o tempo não existe eu sei, mas não custa nada tentar sabotar o jogo.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Entre o corpo e o coração

Neste doce emanharado de experiências que é a vida, as almas se perdem nos caminhos desconhecidos da curtição.
Todos munidos de seus libidos, atacam mecanicamente quem estiver disposto a compartilhar o desejável atrito corpóreo.
Não existe a olho nú nem uma ligação sequer entre o corpo e o coração, tudo está desfeito. Essa não é a idéia mais pessimista sobre os seres que frequentam essa terra por um determinado tempo, nem um pensamento altruísta sobre o que deveria significar o corpo... é só uma leve sensação de que a cada dia que passa, existe os sentidos estão se artificializando.
De fato as pessoas, incluindo aquelas que acham isso uma bobagem e não se incluem no raciocínio, estão desistindo do amor e da entrega verdadeira. Há quem diga que essa história de amor ficou para as comédias romanticas de sabado a noite, mas no fundo é o fogo que arde em meio a solidão.
Todos necessitam de amor, mas todos que possuem cicatrizes repudiam a ligação entre o corpo e a alma e simplesmente produzem o prazer para curar as mágoas.
É a troca corpórea que move o mundo. Um mundo desacreditado no amor. São as noites que recebem visitas curtas. É a solidão que sempre fica.
Sem um resquicio de hipocrisia, quero que se levante quem ainda não consegue separar o corpo do coração. Quero que desminta a idéia de que todos precisam de um amor, e que no fundo as comédias românticas antecedem a busca corpórea nas madrugadas, para disfarçar a frustração de um coração magoado.
Eu não sou romântica, nem tenho um coração de pedra. Sou apenas racional, acredito na verdade do amor. (isso sem mil coraçõezinhos no ar, por favor).
Enquanto não houver uma busca sensata pela entrega da alma a um amor, haverão noites frias e solitárias.
Existem pratos saborosos pelas madrugadas, mas que pena, eles esfriam. Por isso, procure manter-se sempre aquecido, para que a frieza contemporânea não te afete.

domingo, 18 de abril de 2010

Corpo quente

Uma noite poderia ser selvagem, se não fosse a inocência de uma dama incomum.
Todo o crédito do jogo se projeta sobre uma unica carta, uma carta neutra, sem sentimentos, sem ilusões, sem pretensões.
Seria agradável, que o corpo não estivesse tão ligado aos sentimentos, e que tudo funcionasse separadamente em um mesmo universo. Corpo e desejo de um lado, coração e sentimento do outro.
A euforia constante do corpo trai os sentidos da alma. O corpo quer ser tocado, mas o coração deve se manter inatingível, batendo sempre no mesmo compasso.
Mesmo que nas entranhas subsista o desejo incontrolável de unir os passos em falso do corpo à ternura do coração, não existe e nunca haverá uma relação harmoniosa entre os dois.
O corpo se deleita, e a noite que poderia ser selvagem é dominada pelo coração que se não se entrega ao raciocínio frio da alma física.
A inocente dama incomum, prova o gosto incerto da inexperiência.
As noites podiam ser diferentes, menos corpóreas, menos físicas... mas isso é só enquanto restar a inocência.
Enquanto todo o jogo corre sobre a mesa do desejo, o corpo permanece quente, esperando o coração esfriar.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Uma noite de quinta.

A natureza interior em contrito, dissimula o vislumbre da velha alma.
Há dias na vida, em que tudo o que faz sentido é o simples fato de olhar ao redor e não ver clareza nas atitudes humanas.
A vida corre como um cavalo veloz,e não espera por ninguém como um relógio covarde. Deixa o tempo frio e o amanhã incerto.
Dias de chuva trancam no aconchego do ser os pensamentos mais profundos e insólidos, proporcionando a alma momentos de reflexão entre o silêncio e a razão.
O silêncio é o ponto de partida para uma busca interior. Tudo que o mundo desconheçe habita por tras do olhos da alma. Toda a riqueza de um ser está escondida...
É preciso um olhar mais profundo para ver aquilo que só se pode sentir.
A razão abraça a lógica, sabota a emoção e coloca em "xeque" qualquer tentativa do coração. Se o ser só precisa de razão, então que a tenha para perceber que o mundo já não é bom o bastante para viver sem emoção. É preciso deixar o coração bater mais rápido que de costume, para lembrar em fim, que a vida é bem mais que existência.
Isso é o que se passa em uma mente, quando o silêncio proporciona uma busca interior sobre a vida, sobre os dias, sobre as horas de espera na calçada em uma chuvosa noite de quinta.

domingo, 4 de abril de 2010

Dia frio de Abril.

Acordar em um dia qualquer e perceber que tudo ao seu redor é mais familiar do que o que está dentro de você faz o dia dia ficar péssimo.
Nos deparamos com o reflexo vago em um espelho embaçado, daquilo que imaginamos representar quem somos, quem aparentemente somos.
Em manhãs frias, somos tomados pela duvida cruel que introduz o nosso ser a um dilema sem fim. Afinal, o que sentimos? Qual o nome do mar bravio que se move dentro de nós?
Diante de tantas indagações nos vemos ainda inertes em uma cama.
Toda a agonia de uma vida sem respostas se resume em simples Blue notes.
Então, que se estenda sobre o mundo exterior a voz que canta em silêncio dentro de um ser em conflito. Se é amor ou ódio o tempo é quem vai dizer. Na disputa entre saber e ignorar, a música levará o prêmio, e o ser que não sabe quem é, será então bem mais que uma simples canção.
Quando tudo estiver em ordem, quando poesia não se confundir com discurso, quando tudo que é proferido não tiver mais sentido, então é hora de abrir os olhos e encarar a vida. Por que o mundo é imensidão, e nós somos pequeninos.
Em um dia qualquer de tristeza, disfarce o sentimento com música, ninguém precisa saber das nossas fragilidades, é segredo.