segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Desperdiçar

Esvaziei meus bolsos hoje e percebi que não me resta mais nada além de algumas moedas de valor pequeno, e uns poemas escritos em papéis de rascunho.

Eu procurei dentro de mim algo mais que eu pudesse usar como combustível para fazer a vida valer a pena. Lá no fundo, bem escondido entre planos desfeitos, sonhos adormecidos, objetivos inalcançados, vontades abandonadas, eu encontrei algo. Um tanto tímida, e abobalhada, eu vi um punhado de vida ansiosa para ser  desperdiçada. 

Eu olhei bem dentro dos seus olhos misteriosos e pude ver uma luz acesa. Ela me disse que quer atravessar o oceano, amordaçar a razão, e afogar o medo. Ela que correr os riscos da vida e da morte. Ela deseja ser mais que uma existência que o moinho do tempo consegue corroer. 

Ela me disse que não deseja dar seus últimos suspiros acomodada em uma cadeira de balanço na varanda de uma casa cheia de gatos. Ela não quer dar seus últimos suspiros olhando a vida passar na sua porta. Concordamos em lutar por um final mais interessante, por uma mente mais rica, por uma vida mais preciosa de detalhes e vivências. Concordamos em aumentar as doses de amor, os valores da aposta, as doses de tequila, as páginas de livro, os roteiros de viagem. 

Fizemos um trato. Vamos ouvir a mesma canção milhares de vezes sem reclamar, em vários idiomas diferentes, em diversos lugares longínquos, em montanhas, em litorais, em serras, em desertos, em qualquer lugar, em qualquer momento.   

Eu quero desperdiçar minha vida. Eu quero o céu e o mar. Eu quero amar. Quero descobrir livros que nunca li, quero ouvir canções que nunca senti, quero sentir lábios que nunca toquei, eu quero gastar meu tempo. 

Quero deixar para trás as mensagens não respondidas, abandonar as expectativas. 

Encontrar um rumo, uma razão, um sentido. Quero desaprender o caminho de volta para casa. Eu sou um pouco no mundo, sou pouco demais. 

Quero desafiar as distâncias entre os mundos. Romper continentes, provar que é possível chegar ao outro lado do mundo. 

Sem malas, sem expectativas. Sem nada. Nada além de mim, meus pés e um saco vazio de vida para ser cheio.

4 comentários:

  1. Uau! Exatamente a decisão que eu tomei nos últimos meses: nada além de mim. Abandonei a concepção de que "deixar pra trás" possa ser desperdicío de vida. Quero é abarcar aquilo que ainda se possa ser vivido. Sendo a vida breve e linear, seguimos, pois, o seu percurso. Há de encontrarmos alguma coisa ao fim do arco-íris.

    Beijo, flor!

    ;**

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    1. Tenho certeza que encontraremos algo sim! Dani, obrigada por ler! Beijos

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  2. Respostas
    1. Espero que isso signifique algo bom! hahaha, obrigada por ler! Beijos

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